Em dezembro próximo passado, eu deliberadamente, resolvi
fazer um teste com meus amigos, em especial aqueles que, diariamente, passam-me mensagens de otimismo, sempre creditando seus desejos ao deus no qual acreditam
e até com certo conteúdo de conversão. Era o dia 03 de dezembro, dia de Yansã ou
de Santa Bárbara, no sincretismo brasileiro, minha deusa-mãe arquetípica, então
enviei aos meus amigos uma foto poderosíssima de Oyá cavalgando um búfalo, seu
animal de poder, escrevi a oração de devoção a ela e dei um salve à minha
Grande Mãe. Qual não foi a minha surpresa: só uma pessoa retribuiu a mensagem
agradecendo-me. Qual foi a minha surpresa: esta mensagem foi-me enviada por um
amigo padre, o Padre Katê - o único que se dignou a dizer: muito obrigado! Esse fato pôs-me a refletir. Recebia diariamente mensagens de
otimismo e de amor, seja parte de uma pregação, sejam cânticos, seja divulgação
de um trabalho caridoso e estas inúmeras mensagens vêm de pessoas de variadas
religiões com a mesma intenção. Mas o padre foi o único que compreendeu o amor,
a minha intenção em doar o que eu tinha de melhor: a fé na minha Deusa!
Esse meu amigo nunca me julgou, criticou ou tentou me
dissuadir da minha fé, por mais diferente e distante que fosse da dele. Pelo contrário, el sempre
me acolheu, rezou por mim quando sofri um aborto, batizou o meu filho caçula,
mesmo eu não sendo católica, sempre me abraçou quando fui às missas, mesmo
sabendo que pratico outra crença. Ele sempre me deu o melhor dele e respeita a minha decisão do que seja o melhor para mim espiritualmente.
Pior do que não agradecer uma mensagem, pelo menos por reciprocidade, foi o que me aconteceu esta
semana. Postei um vídeo da página Quebrando o Tabu que, de forma bem humorada, informava as dez formas de ir para o inferno dentro de passagens bíblicas, com
coisas banais tais como comer camarão, usar roupas de tecidos diferentes, fazer
a barba, ser gay e por aí vai. Tive
comentários hilários, marcando encontro comigo no escaldante lugar. No entanto, duas
amigas foram cruéis, dizendo que o Deus delas iria me converter, que não
concordava com as minhas postagens e que certamente não havia sido esse
pensamento ensinado por meus pais, cristãos evangélicos. Respondi as duas com muita amorosidade, informando
da grandiosidade da diversidade, do respeito, da relatividade dos conceitos de certo e errado.
Tenho certeza de que não entendem nada sobre a diversidade
religiosa, de pensamento e da liberdade de expressão. Com certeza, não foi por
serem menos instruídas do que eu. Foi pelo fanatismo, por se considerarem tendo a
exclusividade de Deus, que, diga-se de passagem, é dito por elas: “o meu Deus”.
Ou seja, o meu, se é que têm vários deuses, não tem nenhum valor para elas. E
se eu não coadunar com a mesma crença delas, sou digna de dó, por que,
certamente, irei mesmo para os quintos dos infernos com meus pensamentos de
igualdade, de liberdade, de amor pelo próximo, de respeito às diferenças. Então,
concluí que se o inferno estiver cheio de pessoas que pensam como eu, não terei
dúvida do lugar para aonde eu quero ir.
Talvez o Padre Katê seja o único dentre os meus
amigos citados que tenha, realmente,
compreendido o verdadeiro significado do que o Salvador, no qual ele acredita,
tenha deixado de ensinamento para a humanidade: “amar o próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as
coisas." Talvez por que ele tenha compreendido a complexidade
da divindade, que é o Todo, sem frações de Deus ou Deusa, ou distinção de religiões, raças,
credos, orientação sexual e religiosa. Talvez ele tenha entendido que se somos a imagem e semelhança de Deus ou Deusa,
somos fagulhas da divindade e juntos formamos o Todo, que são as faces masculina e feminina da divindade em um único Ser de Inteligência
Suprema.
Texto e foto: Ângela Santos, libriana, com lua em Gêmeos e Ascendente em Áries. Delegada de Polícia no Distrito Federal há 19 anos, Gineterapeuta, Moon Mother, Terapeuta em Barra de Access, Benzedeira, Erveira, Cartomante, Facilitadora de Círculo de Mulheres na empresa Clã Filhas do Vento, Mãe de três filhos.