Delegada de Polícia, Gineterapeuta, Moon Mother, Oraculista, Erveira, Benzedeira.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Onde encontrei a Deusa e o Deus

 


 


Ao longo da minha vida sempre questionei a existência de Deus, onde ele estava e como se manifestava. Não conseguia conceber a ideia de um Deus sem a Deusa, um Deus capenga, faltava algo, e então, não conseguia me conectar com a divindade, pelo menos da forma como me fora ensinada. Depois de muito pensar sobre isso, buscar respostas e estudar sobre as religiões antigas, consegui acessar a divindade feminina, a Deusa. Mas Ela também estava incompleta. Como sou facilitadora de roda de mulheres e ensinava a elas sobre o feminino e masculino sagrados, comecei a correlacionar estes dois arquétipos, que habitam em nós, com o casal sagrado, o Deus e a Deusa, que se complementam no Casamento Sagrado formando o casal supremo.

Mas esse casal ainda estava muito no plano mental, não o sentia com tanta frequência e hora e outra me pegava questionando a existência da divindade. Como essas duas forças se manifestavam, como eu iria saber que elas estavam por perto, o que, de fato, eu sentiria?

Apesar de ser muito racional para permitir a presença dessa divindade, por vezes eu era surpreendida com pessoas religiosas que diziam sentir uma energia muito bacana com a minha presença, outros me diziam que viam anjos ao meu redor, outros falavam que viam Espíritos protetores tomando conta de mim. Acabei acreditando nessa força de poder que de uma certa forma eu havia canalizado para mim.

Comecei a frequentar muitos templos religiosos de variadas crenças. Em todo lugar que chegava, já bem menos racional, eu me conectava com a divindade. Se ia a uma missa, eu chorava muito, se ia a um terreiro, eu era acalentada pelos Orixás, pelas entidades, se ia a um templo budista, eu me sentia plena, se ia aos rituais da Deusa, eu entrava em êxtase, se ia a um culto evangélico, eu entrava em comunhão.

Ano passado senti uma vontade estranha de conhecer um mosteiro na cidade de São Mateus, ES. Ao chegar lá, começou uma chuva fina e fui recebida por uma simpática freira, que logo me disse: você veio trazer ou buscar benção?  E eu rapidamente respondi: os dois. Então, ela, com um sorriso lindo me disse que com certeza eu trazia benção, pois a chuva chegou no mesmo momento em que eu pisei os meus pés ali e chuva sempre é sinônimo de benção em forma de água que mata a sede. Nesse ínterim, eu já chorava, emocionadíssima. Ela me disse que se chamava Estefânia e eu lhe contei que esse era o nome de uma amiga querida de infância. Então, ela, de forma terapêutica, me disse: quem sabe sua cura não esteja lá na sua infância e me deu um abraço caloroso e demorado para me confortar. Senti vontade de me enclausurar ali com elas e naquele momento eu não senti vontade nem de morrer, nem de viver, pois estava plena. Ali eu senti que a Deusa e o Deus estavam presentes, não importava qual a fé professada naquele lugar.

Há um tempo, eu fui assistir a um tabuleiro de Omolu, no terreiro onde meu filho foi iniciado no Candomblé. A festa estava linda, com os cânticos e rezas, eu, como sempre, já muito emocionada, quando, em determinado momento da festa, o Orixá Omolu veio me dar um “banho de pipoca”, colocou-me em seu colo e me afagava como se acalentasse um bebê, pediu para que buscassem o seu Azê, que é a sua coroa com as palhas que lhe cobrem o rosto e o corpo, entregou a mim e disse para eu levar para a minha casa e deveria devolver na próxima semana, em outro tabuleiro. Naquele momento eu senti as minhas feridas sendo cicatrizadas, as minhas dores mais profundas sendo dissipadas. Eu me senti honrada com tanto carinho e proteção e fiz o que ele me pediu e me senti protegida. Ali eu senti a presença da Deusa e do Deus e eu só queria continuar sendo afagada pelo casal supremo.

Dias atrás, meu namorado disse que iria me levar a um lugar que me deixaria muito feliz. E assim, partimos para Aparecida do Norte, mais especificamente, para o Santuário de Nossa Senhora da Aparecida. Não contive minhas lágrimas quando pisei o pátio do santuário. Vi pessoas sentadas nas calçadas, muito simples, comendo seu lanche trazido de casa, pagando suas promessas. Eu me arrepiava toda e me emocionava. Quanta energia boa senti, quanta gente cheia de luz, pagando o que devia e agradecendo pelas bênçãos recebidas. Por mais que eu respeite a Santa e a considere uma Deusa, mulher preta e forte, eu percebi que a energia que eu sentia vinha da fé daquela multidão cheia de gratidão em seus corações, eu sentia que ali não havia lugar para maus pensamentos, todos ali vibravam amor, cura, agradecimento, esperança.  Ali estavam a Deusa e o Deus e eu estava sentindo muito forte a presença do casal supremo.

Hoje, eu vejo o quanto eu procurava de forma racional respostas que eu só pude encontrar quando me permiti ser pequena, ser inteira, ser plena, quando eu me permiti enxergar o casal divino nos sentimentos dos outros, quando eu me permiti ser frágil, cheia de defeitos e quando eu me permiti tirar os julgamentos das religiões praticadas e pude perceber que, independente da religiosidade de cada um, o casal sagrado sempre estará onde existirem pessoas que acreditem em sua força, pessoas agradecidas, cheias de amor e esperança de dias melhores.

Foto: Google

Texto escrito em 10 de setembro de 2020 por Ângela Santos, mais conhecida com o seu Jeito Ângela de Ser, libriana com ascendente em Áries e Lua em Gêmeos, mãe da Lorena Mayara, do Luís Caetano e do Emanuel Oliveira, Gineterapeuta (a arte de cuidar da mulher da forma como a mulher cuida) Moon Mother (Cura da Mulher com o Despertar da Energia Feminina), Terapeuta de Barra de Access, Facilitadora de Círculo de Mulheres, Estudiosa do Baralho Cigano, Erveira, Benzedeira, Escritora, Delegada de Polícia no Distrito Federal desde 1999.