Não consegui viajar para a praia nesse último verão. No entanto, no final de março, quando já era inverno, inesperadamente, apareceu uma viagem para o melhor lugar do mundo, onde minha alma se sente em casa, Massarandupió, como diz a minha amiga Ritta Cidhreira, “O Mar sara do pió”.
Quando eu digo aos meus amigos que viajei para Massarandupió já é esperada a pergunta: “Ma o que?” Prontamente eu respondo, parafraseando a Ritta, mas adicionando o pronome relativo que especifica o mar, qual seja, o mar daquela vila que tanto me encanta: O mar que sara do pió. E eles nunca mais se esquecem do nome dessa acolhedora vila de pescadores, de artesãs, de povos quilombolas, com seus saberes ancestrais, que sabem viver a vida com leveza.
Já era a última semana de março, no final da tarde, e eu estava na praia, na barraca do meu amigo Patrício, um grande cozinheiro e excelente anfitrião, quando as ondas começaram a chegar até às mesas e cadeiras, momento em que Patrício do alto da sua sabedoria, adquirida há mais de trinta anos em sua cozinha e escritório sediados na praia, disse-me que aquele fenômeno eram as águas de março fechando o verão, que vinham com ondas calmas e compridas, banhando tudo, diferentemente das águas de agosto, cujas ondas viriam derrubando tudo. Isso me deixou reflexiva.
O Verão já tinha ido embora e, oficialmente, tinha chegado o Outono, mas era março e, naquele lugar, com aquele sol, aquela praia linda e deserta e aquelas pessoas que tanto amo, ainda era verão. Percebi que o mar estava calmo, mas a sua calmaria tinha uma força incrível, pois as ondas eram compridas e chegavam limpando tudo, lambendo a extensão de areia e beijando tudo aquilo que não fosse mar.
No calendário já era Outono, mas para a natureza, às vezes, é preciso estender um pouco mais certa estação para que nós, distraídos que somos, possamos compreender o que a última estação que já se foi ainda tem a nos ensinar. O Verão nos traz a medicina da celebração, da maturidade, do corpo preparado para gerar um filho ou um projeto. Já o Outono nos traz a medicina do saber se despedir, do deixar ir, do desfolhar-se, do desapegar, assim como fazem as folhas das árvores, que se preparam para o inverno, momentos antes do recolhimento.
Talvez eu ainda precise aprender a celebrar mais como fazemos no Verão, talvez eu não tenha que me despedir de tantas coisas incríveis que conquistei na primavera passada e talvez o Verão tenha sido pequeno demais para celebrar tantas coisas maravilhosas que acessei. Ainda tá bom demais para me desfolhar, para me desapegar, para me preparar para o recolhimento do Inverno. Até porque já tive invernos tão rigorosos que consumiram primaveras, verões , outonos e invernos e, mesmo com a chegada de mais uma primavera eu ainda continuava no inverno.
Nada mais justo, então, do que eu prolongar este último Verão dentro de mim e continuar com as celebrações, gerando projetos magníficos e sendo instrumento da Deusa na difusão de propósitos que ajudam na cura da humanidade. Então, olhando aquele mar forte que, apesar de calmo, conseguia mover uma onda longamente, eu pensei: que privilégio o meu poder assistir a essas águas de março fechando o meu verão.
Texto escrito no dia 27 de março de 2025, já Outono, Lua Minguante, Sol em Áries.
Fotografia feita pela autora na Praia de Massarandupió.
Ângela Maria dos Santos, mais conhecida pelo seu jeito Ângela de ser, libriana, com ascendente em Àries e Lua em Gêmeos, contadora de historias, facilitadora de círculo de mulheres, terapeuta da Bênção do Útero, Gineterapeuta, Especialista no Combate à Violência de Gênero, Delegada de Polícia e mãe da Ló, do Luighi e do Manu.