Ontem, li a crônica do Rúben Alves "Onde Mora o Amor" e me encantei com ela. Como sou intensa demais, acabei lendo-a, em voz alta mesmo, para várias pessoas, uma delas a minha mãe, que nem é tão adepta assim à leitura e, talvez por isso, eu quisesse, com a minha forma de interpretar a crônica, mostrar-lhe o quanto os escritores falam de nós em seus textos.
Rúben Alves descrevia a volatilidade do amor que, para ele, "mais se parece com uma gota de chuva numa folha de couve, o raio de sol se decompondo nas setes cores do arco-íris. Mas tente pegá-la... Tente colocá-lá no anel. No anel só ficam coisas duras e mortas. Quem pega perde. Vento engarrafado não serve para empinar pipas e nem faz o cabelo voar... Gota de chuva brilhando em folha de couve a gente só pode olhar e extasiar. Alguns pensam que o casamento faz o milagre, que é capaz de pôr a gota de chuva no anel. Que ele consegue engaiolar o vento. E até inventaram esta palavra terrível que vamos repetindo sem nos lembrar do que significa: conjugal, con-jugo, sob a mesma canga, como parelha de bois, amarrados..."
Minha mãe sorria a cada comparação do amor ou da tentativa de engaiolá-lo e, do alto de sua experiência e sabedoria, ela concordava com o autor e se admirava com a simplicidade com que essa complexa definição se chegava a ela.
A chuva caiu a noite toda e só foi dar trégua ao amanhecer.
Então, minha mãe levantou-se, fez a sua caminhada matinal e, depois do seu banho, já se preparando para o trabalho, deparou-se com os seus pés de couve, cujas folhas guardavam as gotas da chuva da noite, que brilhavam nos poucos raios de sol, se confundindo com as cores do arco-íris.
Ah, ela não se conteve e disse que não poderia sair para o trabalho sem antes me chamar para me mostrar como era a descrição do autor sobre o amor. Ela estava com a alegria singela das crianças ao saber que sua horta guardava a poesia do amor.
Eu me empolguei e já fui logo fotografá-las, esbarrando-me numa das folhas, que, plaft, lá se foram as gotas de chuva. Então, parei e admirei cada folha de couve com as suas tantas gotas de chuva, umas minúsculas e outras gorduchas, cada uma no seu lugar, como se fosse uma pintura, que brilhava e me deixava um recado: não tente me pegar, eu só existirei enquanto me deixarem aqui, onde serei contemplada e admirada. Então eu entendi a profundidade da comparação que o autor fez entre o amor e a gota de chuva na folha de couve, com a qual eu estava extasiada na horta de minha mãe, que já havia se tornado íntima de Rubem Alves.
Foto: Ângela Santos
Texto Escrito em 02/04/2018 por
Ângela Santos, mais conhecida com o seu Jeito Ângela de Ser, libriana com ascendente em Áries //e Lua em Gêmeos, Gineterapeuta (a arte de cuidar dos seres da forma como a mulher cuida) Moon Mother (terapeuta da Cura e Bênção do Útero), Terapeuta de Barra de Access, Facilitadora de Círculo de Mulheres, Estudiosa do Baralho Cigano, Erveira, Benzedeira, Escritora, Delegada de Polícia no Distrito Federal desde 1999 e mãe da Lorena, do Luís Antônio e do Emanuel, a tarefa mais desafiadora, mas a mais prazerosa.