Adoro pegar a estrada de carro sozinha.
Sei lá, parece que entro num estado meditativo. Primeiramente, aquela sensação de que algo
novo está à nossa espera logo ali na primeira curva ou no final de uma reta sem
fim, depois, a sensação de alívio de que aquilo que ficou para trás era tudo que não nos acrescentava mais e, por fim, a esperança de que o que passou não volta mais, mesmo quando eu estiver passando pelo mesmo lugar, pois aquela paisagem não mais será a mesma, terá outros pássaros, uma árvore caída, uma flor nascida.
Sempre nessas minhas andanças,
conversando com o barulhento silêncio na minha mente, resolvo pendências,
avalio situações, coloco-me no lugar do outro, desculpo-me, perdoo-me, choro,
rio, faço planos. Tudo fica tão cartesiano que chego ver os gráficos coloridos à
minha frente.
A criatividade aflora, grita, de tal forma que, às vezes, é necessário parar o carro para alguma anotação, como foi o caso dessa última viagem que fazia, voltando da casa dos meus pais.
Então, comecei a relembrar a
minha trajetória com minha mãe. Somos tão diferentes uma da outra, que chegamos
a ser parecidas. Quantas brigas, desentendimentos, vontade de estar longe, de
ser diferente, de não me parecer com ela, de ter a minha vida, a minha forma de gerir a vida. E pensei
nisso por que estava muito feliz com a presença dela no lançamento do livro que
publiquei na companhia de mais onze colegas delegadas de polícia. E, vendo a imagem capturada pelo fotógrafo do
evento quando eu lhe dava um beijo no rosto, ela radiante, vi o quanto ela se
orgulhava de mim, o quanto estava feliz com mais aquela conquista. E aquele
beijo dado por mim era um sinal de gratidão, pedidos de desculpas, de perdão,
de reverência por tudo que ela representa na minha vida.
Foi assim que comecei a pensar em
mim mesma como mãe, nos meus filhos, nas relações entre pais e filhos. Fui
lembrando de várias e conhecidas relações conflituosas que haviam se transformado
em lindas e harmoniosas ligações. Logo veio à minha mente uma teoria despretensiosa, surgida naquele momento sem nenhuma comprovação cientifica, de que os filhos nos são dados para que consigam enxergar a melhor versão de
nós mesmo, não obstante eles tenham inúmeras queixas a fazer de nós.
O que seria do mundo se não
existissem os filhos, que mesmo revoltados com as nossas posturas ditatoriais
em relação a suas vidas, acabam vendo o melhor de nós, aquilo de mais bonito
que temos?
Talvez, sendo filhos, seja a
maneira mais fácil de praticar o tão falado amor incondicional ou o amor crístico. Os filhos nos
amam e conseguem ver a melhor versão de nós mesmos apesar de. Acho o amor filial no campo
da evolução humana, até mais poderoso do que o amor paterno e maternal, pois com relação a estes,
os pais nos criaram desde crianças, viram-nos crescer, amadurecer e aprenderam a
nos amar desde a concepção. Acredito que seja fácil amar a cópia ou a projeção de nós mesmos. Já os filhos
não, quando eles chegaram, nós já éramos os que púnhamos limites, dizíamos
não, frustrávamos as suas expectativas, muitas vezes até os ferimos com as
nossas infantilidades, ignorâncias. E mesmo assim, eles ainda conseguem superar
a dor, crescerem com as nossas fraquezas e verem o que temos de mais bonito.
Então, fiquei pensando que todos deveríamos
nos relacionar com as pessoas como os filhos se relacionam com os seus pais,
sabendo que estes têm defeitos, mas que não são só defeitos e que, apesar dos
pesares, todo ser humano carrega uma luz dentro de si, mesmo que a lâmpada esteja
extremamente suja das vicissitudes terrenas.
Talvez eu tenha tido estes insigts por que eu precisasse arranjar uma forma bonita de dizer para a minha
mãe que eu vejo a luz forte que brilha em seu ser, que a sua lâmpada está limpa, que eu vejo a melhor versão dela mesma e dizer mais, que apesar das minhas birras de criança ferida, eu só queria tê-la me prestigiando no dia mais importante da minha vida, pois eu estava realizando um sonho de criança.
Fotografia: Tagore Editora.
Texto: Ângela Santos, libriana, com lua em Gêmeos e Ascendente em Áries. Delegada de Polícia no Distrito Federal há 19 anos, Gineterapeuta, Moon Mother, Terapeuta em Barra de Access, Especialista em Bendizer, Erveira, Estudiosa do Baralho Cigano, Facilitadora de Círculo de Mulheres na empresa Clã Filhas do Vento, Mãe de três filhos.
Texto: Ângela Santos, libriana, com lua em Gêmeos e Ascendente em Áries. Delegada de Polícia no Distrito Federal há 19 anos, Gineterapeuta, Moon Mother, Terapeuta em Barra de Access, Especialista em Bendizer, Erveira, Estudiosa do Baralho Cigano, Facilitadora de Círculo de Mulheres na empresa Clã Filhas do Vento, Mãe de três filhos.
Gratidão por ter externalizado isso ao mundo, mãe 💛
ResponderExcluirGratidão por você conseguir me amar apesar dos pesares, minha filha.
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