Barulho
de chuva caindo no telhado da casa...
Como será a onomatopeia para tal?
Não se
sabe, nem se está interessado em saber, só se sabe que traz boas lembranças,
que, de tão reais, vê-se o momento passado, como se tivesse sido fotografado, emoldurado e pendurado na parede da sala e se sente o pulsar do sangue na veia,
bombeado pelo coração, com a mesma freqüência de outrora.
E a semana só estava na metade, folga inesperada, daquelas que a gente não sabe o que fazer
com ela. Não para um casal que acaba de iniciar o namoro e uma simpática, sábia
e sensível anfitriã, que se deita no sofá revestido com uma colcha
confeccionada com retalhos, que se formam exclusivos mosaicos e, em cujas
almofadas, com capas de crochês feitas com restos de linhas coloridas, recosta
a cabeça.
A chuva
insiste em cair...
O jovem
casal se enrosca na cama de solteiro, que se integra à velha mobília do
misterioso quarto e os dois nem imaginam que tesouros escondem o baú, a mala de
couro e os guarda-roupas que lhes rodeiam. A moça e o moço não estão
interessados em nada que não sejam o barulho da chuva caindo na telha da
singela casa e a vontade de se aquecerem do friozinho, típico daqueles dias
chuvosos. Mas logo, eles passam a escutar também a respiração e o coração um do
outro em sincronia com os lentos pingos de chuva.
A anfitriã
dorme? Ou está a lembrar de momentos tão parecidos, vividos com o grande amor
de sua vida que, há muito, partira desta vida? Talvez sejam essas lembranças
que a deixam tão quieta, enquanto os jovens apaixonados adormecem no colo um do
outro na estreita cama no quarto ao lado.
Mas a
chuva não para!
Então a
anfitriã levanta-se, prepara a massa do bolinho de chuva, coloca a gordura para
se aquecer e joga, no líquido fervente, uma colherada da bendita massa, fazendo
um barulho, que, por segundos, concorre com os pingos caídos lá fora. Enquanto
o bolinho estoura na panela, um café caipira é coado, cujos grãos foram colhidos,
torrados e moídos manualmente, exalando um aroma que invade a casa,
fazendo com que os enamorados se despertem para, com um bom dedo de prosa, na
companhia daquela boa quituteira, deliciar a merendinha regada a café quentinho
e belas histórias vividas por ela, até que a chuva pare e tudo siga o seu
curso.
Os namorados
cumprirão, cada um, as suas responsabilidades diárias, e a doce anfitriã ficará
sozinha, esperando, ansiosamente, que a chuva caia novamente e uma nova visita
chegue para outras histórias, quem sabe!
O casal
pode até se abraçar toda vez que a chuva cair, mas aquela casa simples não
haverá mais, os móveis antigos que escondiam grandes tesouros serão espalhados
para não se sabe onde, e a anfitriã... ah! Essa, que fazia toda a diferença,
com seus causos e sua discrição, só existirá na memória de cada um daqueles
dois sonhadores, que terão a certeza de que o barulho da chuva caindo no
telhado, o café coado na hora com o bolinho de chuva quentinho nunca mais hão
de ter a mesma delicadeza e o mesmo sabor.
Texto: Ângela Santos, libriana, com lua em Gêmeos e Ascendente em Áries. Delegada de Polícia no Distrito Federal há 19 anos, Gineterapeuta, Moon Mother, Terapeuta em Barra de Access, Especialista em Bendizer, Erveira, Estudiosa do Baralho Cigano, Facilitadora de Círculo de Mulheres na empresa Clã Filhas do Vento, Mãe de três filhos.
Imgem: Alexandra de Abreu (Google Imagens)
Imgem: Alexandra de Abreu (Google Imagens)
Nenhum comentário:
Postar um comentário