Delegada de Polícia, Gineterapeuta, Moon Mother, Oraculista, Erveira, Benzedeira.

sábado, 14 de dezembro de 2024

Gotas de Chuva nas Folhas de Couve da Horta de Minha Mãe


 

Ontem, li a crônica do Rúben Alves "Onde Mora o Amor" e me encantei com ela. Como sou intensa demais, acabei lendo-a, em voz alta mesmo, para várias pessoas, uma delas a minha mãe, que nem é tão  adepta assim à leitura e, talvez por isso, eu quisesse, com a minha forma de interpretar a crônica, mostrar-lhe o quanto os escritores falam de nós em seus textos. 

Rúben Alves descrevia a volatilidade do amor que, para ele, "mais se parece com uma gota de chuva numa folha de couve, o raio de sol se decompondo nas setes cores do arco-íris. Mas tente pegá-la... Tente colocá-lá no anel. No anel só ficam coisas duras e mortas. Quem pega perde. Vento engarrafado não serve para empinar pipas e nem faz o cabelo voar... Gota de chuva brilhando em folha de couve a gente só pode olhar e extasiar. Alguns pensam que o casamento faz o milagre, que é capaz de pôr a gota de chuva no anel. Que ele consegue engaiolar o vento. E até inventaram esta palavra terrível que vamos repetindo sem nos lembrar do que significa: conjugal, con-jugo, sob a mesma canga, como parelha de bois, amarrados..."

Minha mãe sorria a cada comparação do amor ou da tentativa de engaiolá-lo e, do alto de sua experiência e sabedoria, ela concordava com o autor e se admirava com a simplicidade com que essa complexa definição se chegava a ela. 

A chuva caiu a noite toda e só foi dar trégua ao amanhecer. 

Então, minha mãe levantou-se, fez a sua caminhada matinal e, depois do seu banho, já se preparando para o trabalho, deparou-se com os seus pés de couve, cujas folhas guardavam as gotas da chuva da noite, que brilhavam nos poucos raios de sol, se confundindo com as cores do arco-íris. 

Ah, ela não se conteve e disse que não poderia sair para o trabalho sem antes me chamar para me mostrar como era a descrição do autor sobre o amor. Ela estava com a alegria singela das crianças ao saber que sua horta guardava a poesia do amor. 

Eu me empolguei e já fui logo fotografá-las, esbarrando-me numa das folhas, que, plaft, lá se foram as gotas de chuva. Então, parei e admirei cada folha de couve com as suas tantas gotas de chuva, umas minúsculas e outras gorduchas, cada uma no seu lugar, como se fosse uma pintura, que brilhava e me deixava um recado: não tente me  pegar, eu só existirei enquanto me deixarem aqui, onde serei contemplada e admirada. Então eu entendi a profundidade da comparação que o autor  fez entre o amor e a gota de chuva na folha de couve, com a qual eu estava extasiada na horta de minha mãe, que já havia se tornado íntima de Rubem Alves.

Foto: Ângela Santos

Texto Escrito em 02/04/2018 por 

Ângela Santos, mais conhecida com o seu Jeito Ângela de Ser, libriana com ascendente em Áries //e Lua em Gêmeos, Gineterapeuta (a arte de cuidar dos seres da forma como a mulher cuida) Moon Mother (terapeuta da Cura e Bênção do Útero), Terapeuta de Barra de Access, Facilitadora de Círculo de Mulheres, Estudiosa do Baralho Cigano, Erveira, Benzedeira, Escritora, Delegada de Polícia no Distrito Federal desde 1999 e mãe da Lorena, do Luís Antônio e do Emanuel, a tarefa mais desafiadora, mas a mais prazerosa.

Jambos do Pará

 

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Um brinde à Diva do POP


 


Não sou muito fã das músicas de Madona, até por que não consumo muita música internacional, já que tenho uma paixão desmedida pela nossa MPB, mas sempre a admirei pela artista que é, pela sua representatividade para nós mulheres e para a comunidade LGBTQUIA+. É desruptiva no seu comportamento. Há quarenta décadas vem desconstruindo padrões de moralidade e de castração da libido feminina, que gera morte dos corpos que não correspondem a esse modelo fechado de existência e sexualidade.

É preciso reconhecer quem pensou coisas que nem imaginávamos pensar para nos libertar, quem não precisaria dar a cara a tapa para ser reconhecida, mas mesmo assim foi lá e meteu o bedelho sim para defender “essa gente”, para mostrar às mulheres que seus corpos lhe pertencem e nós podemos fazer o que bem entendermos dele e que sentimos desejo sexual sim, por que este é inerente ao ser humano e a nós, mulheres, foi dado um órgão sexual, o clítoris, com a única e exclusiva função de proporcionar prazer para gozarmos a vida ou simplesmente gozarmos do verbo intransitivo mesmo.

Não tenho muita paciência para assistir a shows, mas ontem me permiti assistir ao show dela, transmitido em televisão aberta, quase ao vivo, com um atraso de sincronia de poucos minutos, a pedido da artista. O que vi foi uma catarse coletiva, onde, a plateia, composta majoritariamente de pessoas da comunidade Queer, como Madona a chama, podia ser quem é, pois estava em casa, sendo acolhida por uma rainha que sempre lutou em defesa dessa comunidade. Vi também um show de memória de quem ajudou a fazer esse país lutando contra as discriminações e busca pela inclusão da diversidade, memória de quem morreu vítima do vírus HIV, que afetou sobremaneira a comunidade LGBTQIA+, com inúmeras mortes e estigmatização. Vi um dos símbolos nacionais, a nossa bandeira, ser exorcizada, exaltada e entregue a quem mais sofreu com aqueles que se  apropriaram de forma violenta do nosso símbolo.

Madona disse que sentia as cores verde e amarelo da nossa bandeira com o coração e a perequita, como foi traduzida a palavra “pussy”. Eu traduziria como buceta mesmo, acho mais visceral, que vem de boceta, aquela caixa que guarda valiosos tesouros. Essa fala dela foi mais um escândalo. Na verdade, ela sentiu a nossa energia com o que tinha de mais profundo dela, as entranhas, o útero, nossa fonte de potência, onde está armazenada a nossa força vital. A buceta só é a porta de saída dessa força, desse sentimento, dessa energia.

Por tudo que a diva representa, por esse tesão, que nada mais é do que energia de vida, por nos mostrar que podemos sentir prazer sem culpa, esta que nos foi imposta durante milênios, por desmascarar tantas hipocrisias, um brinde a ela. Vida longa e plena à Diva!

Foto: Google

Texto: Ângela Santos, mais conhecida com o seu Jeito Ângela de Ser, libriana com ascendente em Áries e Lua em Gêmeos, Gineterapeuta (a arte de cuidar dos seres da forma como a mulher cuida) Moon Mother (terapeuta da Cura e Bênção do Útero), Terapeuta de Barra de Access, Facilitadora de Círculo de Mulheres, Estudiosa do Baralho Cigano, Erveira, Benzedeira, Escritora, Delegada de Polícia no Distrito Federal desde 1999 e mãe da Lorena, do Luís Antônio e do Emanuel, a tarefa mais desafiadora, mas a mais prazerosa.