Não sou muito fã das músicas de Madona, até por que não consumo muita música internacional, já que tenho uma paixão desmedida pela nossa MPB, mas sempre a admirei pela artista que é, pela sua representatividade para nós mulheres e para a comunidade LGBTQUIA+. É desruptiva no seu comportamento. Há quarenta décadas vem desconstruindo padrões de moralidade e de castração da libido feminina, que gera morte dos corpos que não correspondem a esse modelo fechado de existência e sexualidade.
É preciso reconhecer quem pensou coisas que nem imaginávamos pensar para nos libertar, quem não precisaria dar a cara a tapa para ser reconhecida, mas mesmo assim foi lá e meteu o bedelho sim para defender “essa gente”, para mostrar às mulheres que seus corpos lhe pertencem e nós podemos fazer o que bem entendermos dele e que sentimos desejo sexual sim, por que este é inerente ao ser humano e a nós, mulheres, foi dado um órgão sexual, o clítoris, com a única e exclusiva função de proporcionar prazer para gozarmos a vida ou simplesmente gozarmos do verbo intransitivo mesmo.
Não tenho muita paciência para assistir a shows, mas ontem me permiti assistir ao show dela, transmitido em televisão aberta, quase ao vivo, com um atraso de sincronia de poucos minutos, a pedido da artista. O que vi foi uma catarse coletiva, onde, a plateia, composta majoritariamente de pessoas da comunidade Queer, como Madona a chama, podia ser quem é, pois estava em casa, sendo acolhida por uma rainha que sempre lutou em defesa dessa comunidade. Vi também um show de memória de quem ajudou a fazer esse país lutando contra as discriminações e busca pela inclusão da diversidade, memória de quem morreu vítima do vírus HIV, que afetou sobremaneira a comunidade LGBTQIA+, com inúmeras mortes e estigmatização. Vi um dos símbolos nacionais, a nossa bandeira, ser exorcizada, exaltada e entregue a quem mais sofreu com aqueles que se apropriaram de forma violenta do nosso símbolo.
Madona disse que sentia as cores verde e amarelo da nossa bandeira com o coração e a perequita, como foi traduzida a palavra “pussy”. Eu traduziria como buceta mesmo, acho mais visceral, que vem de boceta, aquela caixa que guarda valiosos tesouros. Essa fala dela foi mais um escândalo. Na verdade, ela sentiu a nossa energia com o que tinha de mais profundo dela, as entranhas, o útero, nossa fonte de potência, onde está armazenada a nossa força vital. A buceta só é a porta de saída dessa força, desse sentimento, dessa energia.
Por tudo que a diva representa, por esse tesão, que nada mais é do que energia de vida, por nos mostrar que podemos sentir prazer sem culpa, esta que nos foi imposta durante milênios, por desmascarar tantas hipocrisias, um brinde a ela. Vida longa e plena à Diva!
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